segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O setor das confusões e dos sistemas

A história não é enfadonha. É válida. Não é quimera, é entedimento explícito e contundente, paralelo à realidade atual das empresas brasileiras.

Outro dia num desses eventos empresariais encontrei um profissional muito decepcionado com as atitudes de seu Gestor. Ele começou a enfatizar sobre suas agruras e foi dizendo que a empresa era uma loucura, tudo o que ele ouvia falar era em mudanças, adaptações, melhorias, processos enxutos e isso e aquilo e tudo o que importava para o Gestor eram pessoas orientadas para mudanças.

Depois de uns 10 minutos de fala e blablabla, perguntei a ele o porquê de suas queixas, qual era o problema literalmente que a empresa estava tendo, pois argumentei dizendo a ele que mudanças, adaptações e processos de melhorias são ações naturais e obrigacionais de empresas em busca de crescimento e excelência.

O profissional começa sua explanação:

- Imagina! disse ele. Você trabalha numa empresa em que não existe uma continuidade, onde a cabeça do Gestor é uma num dia e no outro já mudou da agua pro vinho. Como é que podemos seguir uma idéia, um objetivo se tudo o que temos que fazer é mudar e mudar. Outro dia o Gestor chegou com uma diretriz nova na reunião diária, que ele resolveu fazer, de 15 minutos, todo o santo dia. Ele disse que está criando o SETOR DAS CONFUSÕES E DOS SISTEMAS. Naquele momento eu pensei que realmente a empresa não servia para mim trabalhar.

Bom, depois dessas explanações eu não entendi mais nada do que ele realmente estava querendo. Mas fiquei curioso para saber o que seria essa tal SETOR DAS CONFUSÕES E SISTEMAS.

Ele me explicou: quando o Gestor apresentou a idéia pra gente na tal da reunião diária, todo mundo ficou surpreso, eu mais ainda, por não concordar de cara. Então, no dia seguinte ele reuniu a equipe para apresentar formalmente a idéia. Ele apresentou um documento para nós e estava escrito o seguinte:

'De hoje em diante nossa empresa deve ser encarada como um quarto de criança. Todos de hoje em diante tem a obrigação de trazer idéias que gerem confusões e sistemas diferentes para atender a clientes e pessoas que consomem nossos produtos'.

- Eu li essa primeira linha e não entendi nada, até entendi, mas como vou aceitar trabalhar numa empresa onde o Gestor pensa como criança.

E continua...

'Nossa empresa não pode sentir medo, não pode se amedrontar diante de coisas invisíveis e inimagináveis que existem circulando pelo mundo competitivo dos negócios, por esse motivo precisamos pensar como crianças, buscar o impossível.'

- Agora você imagina uma empresa que não pode ter medo. Eu não tenho medo de nada, estudei, cresci e aprendi que a gente tem é que ter força e seguir em frente, mas com confusões e novos sistemas, isso não vai dar certo, não existe isso.

E continua...

'Portanto, está efetivamente criada em nossa empresa o SETOR DAS CONFUSÕES E DOS SISTEMAS. Confusões pois precisamos fazer coisas diferentes sem medo de errar e, Sistemas pois precisamos cada dia de mais velocidade para criar coisas novas e fazer com elas sejam conhecidas, usadas, testas e disseminadas pelo mundo afora.'

- Bom, depois dessa eu cheguei a conclusão de que realmente precisava buscar coisas novas para mim, e decidi fazer novos cursos, ler livros diferentes. Enfim, cheguei a conclusão de que se a empresa tá querendo confusão é porque acha que é bom, que vai vender mais, então, das duas uma, ou eu saio da empresa, ou busco melhorar minha condição profissional. Agora, o que mais me surpreendeu foi o final do documento.

O final...

'Para que tudo isso aconteça estou criando dois novos cargos na empresa que vai se chamar LIDER DAS CONFUSÕES e LIDER DOS SISTEMAS. O líder das confusões será responsável por fazer com que o trabalho de cada um no dia a dia seja repleto de criações, de tarefas fora da realidade, longe de qualquer padrão já estabelecido ou criado no mundo empresarial. Esse profissional será responsável pela fervura intelectual da equipe, terá a obrigação de fazer com que todos pensem, criem, exprimam suas idéias ao extremo. E, o líder dos sistemas, será responsável por fazer com que tudo o que passe pela cabeça dos integrantes da equipe seja lançado em um sistema que fará a distribuição de tudo o que está sendo pensado pela equipe. Esse profissional será o responsável por fazer com que todos saibam o que está sendo pensado, criado e gerado de confusão dentro da empresa. Portanto, esse dois profissionais terão que estar muito ligados no mundo, sonhando o tempo todo, idealizando, viajando, discutindo, participando de encontros, debates, discussões pelo mundo todo.'

A conclusão do profissional...

- Bom, agora você já sabe o que tô fazendo aqui. Eu fui escolhido para ser o Líder dos Sistemas. Nunca imaginava que toda essa parafernália de mudança, adaptações teria que ser liderada por mim.


Ao final da explanação do profissional eu o parabenizei pela conquista do espaço e disse que não imagina que no início de nossa conversa, as suas agruras acabariam em algo concreto para o crescimento profissional dele.


Fim...

Puxa vida! que história interessante, que documento intrigante que essa empresa criou, e além disso, fantástica a percepção desse Gestor, que arriscou instaurar um processo totalmente fora da realidade para empresas brasileiras que pouco tem de originalidade.



* Analogia criada com base em práticas de gestão de mudanças, conhecimento e pessoas.

2 comentários:

Millor Machado disse...

Jordano,
Excelente texto. Muito boa a ideia de institucionalizar o Caos e organizá-lo ao mesmo tempo, focando no desenvolvimento da empresa.
Um verdadeiro homem de visão o que teve essa ideia. Agora resta saber se a execução tem sido tão brilhante quanto a ideia.

Abraços,
Millor

Jordano disse...

Millor, sua ótica foi contundente, principalmente na visão da execução. Agora imagina a execução numa empresa onde a cultura do caos é institucionalizada, será que é fora dos padrões? vale até mais um post. Obrigado pelo comentário.