O ano é 1991. Eu
estou com 10 anos e corria pelos jardins da casa de minha Avó, comigo, seguia
junto um amigo.
Distanciamo-nos um
bocado e quando me dei conta já estávamos no meio de uma plantação correndo
como se o mundo estivesse por acabar.
De repente, meu
amigo não percebe e chuta um gigante cabo de aço que segurava um poste
acertando em cheio a ponta do seu dedão e simplesmente rasgando a sua unha de
uma forma impressionante.
Eu nunca imaginei que algo como aquilo poderia acontecer, apareceu do nada um poste no meio da plantação com um cabo segurando-o, algo no mínimo muito esquisito.
Meu amigo começa a
gritar, estávamos longe de casa, longe do hospital, da farmácia, mas próximos
da casa de minha Avó. Imediatamente apoiei meu amigo e partimos em direção a
casa dela.
Minha Avó sempre
teve um espírito aventureiro, lembro-me que sempre quando íamos à casa dela não
faltavam estímulos para que corrêssemos, subíssemos em árvores, no bosque, no
rio, no barracão, em todo e qualquer lugar independente do grau de risco da brincadeira,
ela nos incentivava a fazer de tudo.
Mas no momento em
que chegamos até a casa dela eu estava mais desesperado que meu amigo, eu
sentia mais dor do que ele, eu estava a ponto de entrar em pânico, pois eu o
havia convidado para correr por todos os cantos da cidade, eu fui até a casa
dele convidá-lo para brincar, a culpa por tudo aquilo era minha.
Mas eu não contava
com a próspera sapiência de minha Avó, que percebeu que o ferimento não era
grave, que conseguiu nos acalmar, que medicou meu amigo rapidamente amenizando
a sua dor e, principalmente, que me ensinou algo fantástico sobre a vida. Ela
me ensinou em poucos minutos o que eu certamente levaria décadas para aprender
sozinho.
Minha Avó era uma
artista, habilidosa com suas orquídeas, delicadamente cultivou um jardim
imenso, lindo, repleto de espécies exóticas, flores, árvores, frutas. Recordo
que por inúmeras vezes suas flores enfeitaram casamentos da cidade. Tenho
certeza de nunca na minha vida viverei algo tão lindo como o jardim que ela por
anos cultivou.
O fato é que quando
cheguei até ela gritando por ajuda, com meu amigo pendurado ao meu lado, ela
correndo nos encontrou e com um carinho gigante, como um anjo, cuidou do meu
amigo.
O que ela me ensinou
não foi nada a respeito da dor ou do sofrimento, do carinho ou do cuidado. Para
isso ela tinha outras receitas infalíveis. Ela não me disse nada sobre ter
cuidado, sobre não ficar correndo que nem um desorientado, ela não disse nada sobre
isso.
Ela olhou para mim e
para o meu amigo com a serenidade e a beleza de sempre e disse que nós
precisávamos estar sempre alertas, atentos, olhar e observar, pois assim
teríamos condições evitar que esses acidentes acontecessem. Algo assim ela
disse para nós.
Eu absorvi aquela
mensagem como um ensinamento para a vida e, depois daquilo, inconscientemente,
tenho mantido uma linha de raciocínio em que eu não posso deixar de estar em
estado de alerta sempre. E isso tudo combina e muito com uma das frases
preferidas que meu pai sempre me dizia, ainda diz, volta e meia, é que "um
cara prevenido vale por dois".
Agora, o ano é 2014,
Vera Cruz do Oeste. 85 anos depois do seu nascimento, minha avó Edilia faleceu.
Olhando para ela naquele momento triste, lembrava a todo momento da música
Inverno, das ' As Quatro Estações' de Antonio Vivaldi (você pode ouvir aqui). Ela faleceu no dia de abertura
do inverno, pode ser uma coincidência, mas o fato é que essa música não saía da
minha cabeça.
Nunca vi tristeza no
semblante de minha Avó! Ela nunca desejou tristeza para ninguém. Eu não
quero tristeza, quero lembrar dos
ensinamentos magníficos dela, lembrar das tardes infindáveis em que corríamos
naquele jardim. Lembrar da esperança e do que ela sempre me dizia: "força
Jordano, siga com calma que tudo vai dar certo" - Sempre alerta!!
Obrigado Vó!
Olha ela e meu Avô posando pra foto no jardim!!
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